Crítica | Game of Thrones – 6×05: The Door

Crítica | Game of Thrones – 6×05: The Door

Hodor…

Poucos episódios de Game of Thrones conseguem ser tão cheios de fantasia, intriga política, tensão e um sentido legítimo de perda e desespero. O resultado é nos lembrar mais uma vez que a série de George R.R. Martin não chegou até aqui por acaso.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados em The Door, o quinto episódio da sexta temporada de Game of Thrones.

#GoT (S06E05) – The Door

Se há uma crítica que vem sendo recorrente por parte dos fãs da série é que D.B. Weiss e David Benioff – produtores executivos da série – na falta de livros para servir de fonte nessa sexta temporada, talvez tenham perdido a mão.

Por um lado, há uma certa verdade nisso. Em sequências como a da breve luta pelo trono das Ilhas de Ferro percebemos que algumas tramas estão sendo atipicamente aceleradas, para Game of Thrones, em função de uma narrativa maior que agora de maneira bastante evidente arrasta outras a reboque.

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Euron Greyjoy planeja, enfim, se aliar à Daenerys Targaryen lhe dando a maior tropa naval que o mundo já viu – para substituir aquela que ela recentemente perdeu. Aos seus sobrinhos, Yara e Theon, por sua vez, só resta a fuga, e provavelmente uma aliança com os últimos Stark para tentar recuperar o Norte.

No Norte, a propósito, o ritmo das tramas também se mantém mais rápido que o comum, mas nesse ponto de maneira que nos causa menos estranheza. Assim, assistir Sansa receber uma mensagem de Littlefinger e na cena seguinte já encontrá-lo e confrontá-lo é interessante para se manter um ritmo adequado da trama.

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O confronto entre Sansa e Lorde Baelish, a propósito, já pode ser reconhecido como um dos pontos altos dessa temporada, e sem dúvida coloca a jovem senhora de Winterfell como uma das grandes personagens da trama. Sansa, afinal, mostra que parece mesmo ter aprendido a jogar o jogo dos tronos e já manipula seu meio-irmão, colocando-o na direção que ela precisa para destruir Ramsay Bolton, aquele que tanto lhe fez sofrer. Ou será que ela aprendeu mesmo?

Será que ela não está apenas fazendo exatamente aquilo que o maquiavélico Littlefinger quer, ao enviar Brienne para solicitar o apoio de Blackfish em Correrio? Só os próximos episódios dirão. Jon Snow, afinal, precisa de um exército e após Sansa ter dispensado a proteção dos Cavaleiros do Vale – o que sinceramente não me parece uma dispensa que na prática seja uma escolha dela – os homens da família Tully são um apoio essencial para que os Stark retomem Winterfell. Mais ainda, é muito bom saber que um personagem tão interessante quanto Blackfish não foi sumariamente esquecido.

Para Além do Mar Estreito

Para além do Mar Estreito ainda tivemos um tipo de encerramento até bastante romântico entre Jorah, Ândalo e Daenerys Stormborn. Há algumas teorias remotas que colocam Jorah como o possível e verdadeiro Azor Ahai. Não acho que sejam teorias que tenham alguma substância de fato, mas essa cena entre sua rainha e um dos cavaleiros mais fiéis da história nos dá a entender que o filho do falecido Lorde Comandante da Patrulha da Noite ainda terá um papel muito importante na narrativa. A friend zone, meus amigos, tem um imenso poder; jamais se esqueçam disso…

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E em Mereen, Tyrion acaba tendo que recorrer a um outro acordo que pode trazer consequências interessantes no futuro. Kivara, Alta Sacerdotisa do Templo Vermelho de Volantis, se apresenta perante os principais conselheiros de Daenerys e a reconhece como aquela que foi enviada pelo Senhor da Luz e renasceu do fogo para reconstruir o mundo à sua imagem. Uma reconstrução, que como percebe, pode se um tanto quanto calcinante para aqueles que os seguidores de R’hllor entenderem como infiéis.

Mas a noite foi mesmo, mais uma vez de um Stark. Não, não me refiro a Jon Snow que, com Sansa assumindo a dianteira das ações, foi deixado em segundo plano. Mas isso pode ser mais uma opção dos roteiristas, em preservar o personagem para explorá-lo melhor no momento em que sua origem for finalmente revelada – já tenho minhas dúvidas se será ainda nessa temporada -, ou então no momento da batalha contra os Bolton que vem sendo desenvolvida o longo de toda essa temporada. (A propósito, antes que eu me esqueça, vocês viram de novo o clima entre Tormund e Brienne, não viram? Ahh, minha terceira série…).

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Tampouco me refiro à Garota Sem-Nome, que, evidentemente, jamais conseguirá esquecer que é Arya Stark. A sequência da peça de teatro lhe ensina dolorosamente isso: deixar o seu passado para trás não é algo que se possa fazer apenas pela sua própria vontade. Outra lição que Arya aprendeu foi que a forma como as histórias são contadas raramente se assemelham à realidade dos fatos, e aquele que a seus olhos sempre foi um grande herói, pode ser aos olhos de outros um grande tolo e bufão. Talvez a sabedoria esteja em saber que se é sempre um pouco de ambos.

Todo homem dever morrer, afinal, a morte não faz distinção entre pessoas corruptas ou puras. E com essas palavras, como sempre com peso profético, Jaqen H’ghar dá o tom do acontecimento mais doloroso do episódio, da temporada e talvez de toda a série até então.

Valar Morgulis

A noite, afinal, é do mais poderoso dos Stark, e aquele que de maneira mais sofrida carrega o peso de da responsabilidade de sua família desde o primeiro episódio de Game of Thrones. Mas é claro, há o peso que ele carrega, mas sempre há alguém que carregue todo o seu peso. É assim entre Bran Stark e o imenso puro e doces brutamontes Hodor.

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A porta que dá nome ao episódio poderia ser entendida como uma metáfora das portas da consciência que o mais poderoso Troca-peles dessa geração deve atravessar para seguir em sua jornada de aprendizado. O Corvo de Três Olhos revela a Bran a origem dos White Walkers e do Rei da Noite. E em sua curiosidade, Bran avança mais sozinho em suas jornadas psíquicas e acaba se revelando para o próprio Rei da Noite. Parece mesmo que não há portas que se abram apenas em uma direção.

Isso dá início a uma das sequências mais tensas e aterrorizantes de Game of Thrones até então. Daquelas que nos faz lembrar que essa é sem dúvida alguma uma das melhores séries de fantasia que a televisão já viu – e talvez até mesmo melhor que qualquer coisa que o cinema já produziu nessa linha -, com toda a força épica que uma história como essa é capaz de carregar.

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É absolutamente arrebatador, assim, testemunhar o Rei da Noite com suas legiões de desmortos diante das raízes da árvore do Corvo de Três Olhos, e este último reconhecer enfim seu destino final e, concomitantemente, que é hora de dar seu lugar a um outro, que ainda não está preparado para tal função. Uma sequência que sem dúvida alguma é uma versão melhorada e ampliada da sequência que encerrou a quarta temporada e que, desde já, entra para a história da teledramaturgia.

Sim, afinal há desmortos aos borbotões, White walkers de primeira grandeza liderados pelo próprio primeiro de todos os White Walkers, luta, destruição, bolas de fogo(!!!) e sacrifícios. Muitos sacrifícios. É mais um Dire Wolf que se vai (adeus Summer…). Mas nenhum sacrifício corta mais nosso coração do que o do jovem Willis. É naquele ato que toda a gravidade e extensão da dor que o dom e maldição de Bran Stark lhe proporciona.

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Nesse episódio as suspeitas prévias deixam de ser suspeitas e se comprovam: o poder de Bran é verdadeiramente transcendental, tanto em espaço quanto em tempo. É ele, Bran Stark, que ao tomar a mente do simplório e doce Hodor que, inadvertidamente, também afeta a mente do jovem Willis, que viria a ser Hodor um dia, e ao sim fazê-lo, acaba sendo o próprio responsável pelo destino deste. São cenas assim, também, que nos fazem ter certeza que, a despeito da falta dos livros, Martin segue envolvido com a série e determinando o destino de seus personagens.

Hodor é, assim, aquele que segura a porta. Aquela que mantém a última linha de proteção e defende até a morte seu jovem senhor. Mas, menos por sua vontade, e mais porque Bran Stark controlou seu destino nesse sentido. Uma dor, um peso, uma angústia, que sem dúvida acompanhará o mais poderoso dos Stark por toda sua vida – ou mesmo por toda a eternidade, seja a extensão de seus poderes de fato tão amplas quanto a série dá indicação que possam ser.

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A morte, de fato, não faz distinção entre corruptos e puros. Principalmente entre os mais puros.

Descanse em paz, Hodor. Você foi o herói que qualquer um sonharia em ser. Talvez o mais importante herói de toda Westeros. Mantenha a porta fechada. Hold the line. Hold the door…


Série: Game of Thrones
Temporada: 6ª
Episódio: 05
Título: The Door
Roteiro: David Benioff e D.B. Weiss.
Direção: Jack Bender
Elenco: Peter DinklageEmilia ClarkeKit HaringtonLiam CunninghamSophie TurnerAlfie AllenGwendoline ChristieCarice van HoutenTom WlaschihaIain GlenConleth HillPilou Asbæk e Kristian Nairn.
Graus de KB: 3 – Kristian Nairn atuou em The Four Warriors (2015) ao lado de Nathan Webb, que esteve em Sr. Sherlock Holmes (2015) com Laura Linney que atuou em Sobre Meninos e Lobos (2003) ao lado de Kevin Bacon
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Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

11 comentários sobre “Crítica | Game of Thrones – 6×05: The Door

  1. Puta que pariu MB, me arrepiei lendo o seu texto.

    11 Kevin Bacons não seria suficientes tanto para o texto quanto para este episódio.

    Chorando ainda pelo segurador de porta

  2. um dos episódios mais emocionantes de game of Thrones, confesso que fiquei com o coração na mão nos minutos finais do capitulo, junto com agonia e euforia pra que Bran e sua trupe se salve, enfim foi revelado o mistério sobre nosso querido hodor e sua fala travada, foi bem justificável, e a revelação da criação dos caminhantes brancos pelas Bruxas foi bem macabra, theon fugindo com sua irmã e os renegados das ilhas de ferro… só não gostei das cenas do teatro pra mim foi desnecessária não contribui em nada na trama e sem conta com aquela cena constrangedora nos bastidores logo de cara kkkk

    1. Meu amigo Vader, assista à “Bruno” de Sasha Baron-Conhen e aí você entenderá a verdadeira definição de constrangimento. No mais, como sempre, obrigado pelos comentários. E segure a porta aí, Véio! Segure a porta!

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