Review | Game of Thrones – 6×01: The Red Woman

Review | Game of Thrones – 6×01: The Red Woman

“The Red Woman” marca o aguardado retorno da sexta temporada da série mais famosa da atualidade, insinuando que o ritmo dessas últimas temporadas podem ser bem diferentes.

Uma pergunta atormentava os fãs de Game of Thrones ao longo dos últimos meses. E não, não era o destino de Jon Snow, afinal, todo mundo sabe que, por mais que os produtores neguem, ainda há muito o que se contar sobre o bastardo mais amado dos sete reinos.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados em The Red Woman, o primeiro episódio da sexta temporada de Game of Thrones.

#GoT (S06E01) – The Red Woman

A pergunta que pairava insistentemente no ar, e que atormentava principalmente fãs dos livros era simplesmente o que aconteceria. Sim, pois como é sabido, George R. R. Martin não foi capaz de concluir o sexto livro da série e partir dessa sexta temporada os criadores da série D.B. Weiss e David Benioff teriam liberdade para desenvolver a narrativa com mais liberdade. O que se sabe apenas é que Martin teria dado a Weiss e Benioff as linhas gerais sobre o final da série e a partir eles contariam a história de acordo com suas visões.

Esse processo, em verdade, já havia parcialmente se iniciado no final da última temporada, com o avanço das narrativas envolvendo personagens para além do que os livros da série apresentavam. E desde a temporada passada uma característica bastante interessante se fez mais presente: ritmo. Livres das amarras do material original, é bem possível, Weiss e Benioff (que assinam praticamente todos os roteiros de todas as temporadas) tenham conseguido imprimir à narrativa da sangrenta luta pelo trono de ferro mais dinamismo, fazendo as diversas tramas que se entrelaçam e correm paralelamente se desenvolver rumo a uma tão esperada conclusão.

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Sim, afinal, Game of Thrones, pelo que se anuncia, durará até a oitava temporada. Isso significa que a história já ultrapassou em muito a sua metade. Toda a fase de preparação para o clímax, se não se concluiu, ao menos deve ser concluída nessa temporada, para que as duas últimas sejam dedicadas a amarrar de forma minimamente satisfatória as inúmeras narrativas de inúmeros personagens. Apenas fazer isso satisfatoriamente já seria um grande desafio em qualquer outra produção. Se considerarmos a complexidade das histórias, dos personagens e da produção de Game of Thrones, essa tarefa ganha proporções ainda maiores.

Assim, se houve algo digno de nota em The Red Woman – primeiro episódio da sexta temporada da série – , foi justamente a capacidade que Weiss e Benioff, apoiados pela competência do diretor já veterano na série Jeremy Podeswa, de abrir mais essa etapa de Ganhe of Thrones com bastante ritmo, mantendo um ótimo encadeamento dos eventos da temporada passada.

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As narrativas de Arya, Sansa e Theon, Cersei e Jamie, Tyrion, Daenerys e Jorah e Daario, todas recebem as atenções apropriadas. A intensificação do ritmo fica bem clara no encontro fortuito entre Brienne e Sansa – um recurso que a série costumava rejeitar, talvez por influência da obra literária. Há até mesmo espaço para traições e literais facadas pelas costas e uma certa redenção de personagens muito mal aproveitados pelos produtores na última temporada. Mas é claro, o que captura a atenção de todos é o destino de Jon Snow.

Evidente que a resposta para essa pergunta não é dada nesse primeiro episódio. O primeiro episódio, afinal, como bem se sabe, deve exercer a função de apresentar desenvolvimento de todas as linhas narrativas mais importantes. Nada mais natural, portanto, que a narrativa em torno do Lorde Comandante da Patrulha da Noite com, talvez, um dos exercícios mais curtos da história de Westeros na posição, não recebesse todo o espaço de tela merecido em apenas um episódio. Outro fator que reforça a necessidade de um maior desenvolvimento dessa narrativa ao longo de mais episódios é o que deve estar por vir. Muito provavelmente o destino de Jon Snow, nos próximos episódios, definirá o destino da série e dos Sete Reinos. Mas para que isso aconteça uma outra personagem muito importante precisa reencontrar sua fé e seu caminho perdido.

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Game of Thrones, não nos esqueçamos, é acima de tudo sobre desenvolvimento de personagens. Para Martin, mais do que para qualquer outro, são eles a essência da história. Ainda que muitas vezes a trama se desenrole independentemente deles, é sempre através deles, de suas percepções pessoais, que a trama é contada. Não por acaso quem já leu os livros sabe que cada capítulo é contado do ponto de vista de um personagem recebendo o nome do mesmo como título de referência.

Nada mais justo assim que o nome desse episódio fizesse referência a Lady Melisandre. Talvez não haja personagem mais enigmática em toda a série, e poucas são tão sedutoras e cheias de presença. E dentre estas, Melisandre jamais teve um arco que a desenvolvesse e explorasse a sua intimidade. Justamente para que seu caráter enigmático fosse preservado, é evidente. Mas finalmente vemos a Mulher Vermelha totalmente despojada de sua vaidade e suave arrogância de forma absolutamente arrebatadora. Palmas para Carice van Houten que, mesmo com pouco tempo de tela, consegue entregar uma performance à altura do que o episódio e sua personagem exigem.

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É preciso afinal, mostrar Melisandre abatida e alquebrada, para depois reconstruí-la de forma convincente. Apenas assim ela poderá, ao que tudo indica, encontrar em Jon Snow o caminho que ela procura, e assim dar ao retorno deste o espaço simbólico que a narrativa da série exige, sem que a suspensão da descrença saia por demais prejudicada a ponto de descaracterizar a série.

Game of Thrones, afinal, nunca foi conhecida pela misericórdia por seus personagens, mesmo os de maior evidência. Assim, qualquer coisa que passe pela necessidade de trazer um personagem de volta dos mortos não pode ser tratada com trivialidade. Deve observar um rito – talvez até literalmente – bastante específico e delicado para colocar a série em direção a uma conclusão épica que já vem sendo sutilmente preparada já há algum tempo. Afinal, como já disse, já passamos da metade do caminho, e o tão anunciado inverno tem mesmo que chegar algum dia.


Série: Game of Thrones
Temporada: 6ª
Episódio: 01
Título: The Red Woman
Roteiro: David Benioff e D.B. Weiss.
Direção: Jeremy Podeswa
Elenco: Peter DinklageNikolaj Coster-WaldauLena HeadeyEmilia ClarkeKit HaringtonLiam CunninghamSophie TurnerAlfie AllenGwendoline ChristieMaisie WilliamsJonathan Pryce e Carice van Houten.
Graus de KB: 2: Carice van Houten atuou em Race (2016) ao lado de Tony Curran, que esteve em X-Men: Primeira Classe (2011) com Kevin Bacon
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Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

14 comentários sobre “Review | Game of Thrones – 6×01: The Red Woman

  1. Acho que ainda não consegui assimilar que a série agora realmente se separa dos livros. Não consegui gostar muito desse episódio. O núcleo de Dorne terminou de afundar e as histórias picotadas me causaram estranheza (acho q pelo o que vc mesmo citou sobre o ritmo da série se afastar da dos livros). :/

    1. Eu também tenho esse sentimento Carol. A análise de Mário Bastos está espetacular e realmente é um estudo bem embasado do ‘roteiro’ que a série está propondo para daqui a frente. A derrocada e a retomada de Melisandre foi bem apresentada, assim como todos os possíveis caminhos para os demais personagens, só que…

      …bem, achei um episódio muito morno e, para mim, parece que a temporada ainda nem começou.

      Acho que, infelizmente, Game of Thrones (a série) era MUITO depende do material dos livros. Mesmo que os produtores já tenham o direcionamento, temo que os novos rumos da série não sejam tão bons como antes.

      Mas esse sou eu dando uma de mensageiro do caos. Vamos torcer.

      1. Acho que a série vai tomar uma pegada mais de linguagem de TV, mesmo. Uma hora as tramas precisam fechar, e se é para recorrer a elementos místicos envolvendo o Azora Hai (é assim que escreve?) já está mais do que na hora. Acho que o próprio Martin planejava direcionar a história nesse sentido. Mas é claro a pegada dele é diferente. Talvez tivesse menos aventura e um desenvolvimento mais político e pragmático das coisas. Acho que seria mais por aí. Martin não é do tipo de ter heróis, e isso é bom. Mas também não é prejuízo grande colocar certos personagens em uma posição de protagonismo mais ativa, interferindo inclusive nos rumos da trama maior. Acho que isso ficou bem evidente na luta de Snow contra o White Walker na temporada passada. Foi digno de uma fantasia épica. E acho que no fundo GoT é isso mesmo. Uma fantasia, com elementos místicos relevantes (dragões, bruxas, ressurreições, poderes de ilusão e transformação, dons premonitórios e de percepção extra-sensorial, ah sim, e zumbis) que influenciam o rumo da história. A questão é que Martin esconde isso muito bem, dando pouca exposição aos elementos místicos na narrativa, e focando nas relações entre os personagens sem recorrer aqueles elementos fantásticos para promover alterações no destino desses personagens. Foi assim com Ned Stark e com tantos outros. Não abusar disso permite recorrer a esse elemento eventualmente para favorecer ao desenvolvimento da narrativa através da evolução dos personagens. Só se justificam, a meu entender, esses recursos se envolvida o desenvolvimento de arcos dramáticos de personagens. Agora a TV vai fazer esse desenvolvimento de acordo com os parâmetros que são mais afeitos à sua linguagem.

        1. Pessoal costuma falar muito dos elementos fantásticos de Game of Thrones, mas pouca gente comenta que Martin usa na história elementos de filmes de terror um pouco modificados. Já temos:
          Lobisomem (Bran e os outros Wargs)
          Zumbis (os White Walkers)
          Frankestein (o Montanha)

      2. É até difícil falar, isso, mas GoT tem muito episódio morno, desde sempre.
        Por isso acho que não tem necessariamente nada a ver com a separação dos livros: é comum que a gente tenha só uns dois ou três episódios ESPETACULARES por temporada, geralmente mais para o fim. O começo costuma ser lento mesmo.

    2. Mas Carol, essa coisa de ser “picotado” já vem de algum tempo. Desde a quinta temporada. E acho isso bom. Para a estrutura narrativa de GoT, onde as tramas se desenvolvem paralelamente, mostrar um quadro geral é sempre importante.

  2. Eu queria entender onde o príncipe de Dorne foi assassinado. Aquelas duas que o matou estavam juntas da que matou a mão do rei de Dorne quando Mayrcela foi enviada juntamente com Jamie (e o príncipe) a Kingsland. Depois o que acontece? Elas alcançaram o barco? Alcançaram o quarto dele em Kingsland? Ou ele não foi para lá (algo improvável já que ele estava no barco na season finale da quinta temporada)?
    Fiquei meio boiando com isso.

    Um pouco de decepção por ainda não apresentarem o Bran 2.0.

    No mais, concordo com a crítica e alguns comentários. Tá meio morno ainda.

    1. Bem observado, Mateus. As duas alcançaram o barco em tempo recorde, e o príncipe ficou de bobeira dentro do barco mesmo depois que Myrcella foi assassinada. Roteiro corrido demais.

  3. eu gostei desse primeiro episodio, começou melhor do a 5ª temporada que pra mim foi a mais devagar de todas, tenho boas expectativas quanto essa temporada e com certeza será melhor que a anterior, e o final com a Mulher de Vermelho show de bola, foi impressionante ver a Melisandre de 200 anos, aquela velha me deixou com cala-frios

  4. também considerei esse início um dos melhores. ‘The Red Woman’ cumpriu com maestria a tarefa de servir como uma ponte entre as duas temporadas, basicamente. vários núcleos abordados, muita coisa acontecendo e o público relembrando de tudo… ou quase tudo.

    se temos tramas bem desenvolvidas e instigantes, também temos algumas que ficam cada vez menos interessantes. é. não consigo me envolver com Arya mais. ela está muito deslocada, completamente alheia em relação aos acontecimentos importantes de Westeros. acredito que em algum momento isso mude de maneira espetacular, mas por enquanto está complicado.

    #GoT é extremamente complexo. saber que tudo chegará ao fim em mais três temporadas é essencial para os roteiristas irem trabalhando as conclusões da melhor forma possível.

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