Crítica | Zoom

Crítica | Zoom

A ideia do filme “Zoom”, que praticamente marca a estreia do diretor Pedro Morelli (ele co-dirigiu o filme do seu pai Paulo Morelli chamado “Entre Nós”), é muito boa e mistura técnicas de filme com animação utilizando bastante metalinguagem com três histórias que estão uma dentro da outra formando um ciclo. Não é algo totalmente original, mas não deixa de ser criativo e interessante.

Emma (Alison Pill) trabalha numa fábrica de bonecas sexuais e está insatisfeita com o tamanho dos seus seios. Seu hobby é desenhar quadrinhos e ela está fazendo uma sobre um diretor de cinema chamado Edward (Gael Garcia Bernal). Ele é conhecido por filmes de ação e agora quer fazer algo diferente para mostrar o seu talento. Seu novo trabalho é sobre uma modelo chamada Michelle (Mariana Ximenes) que também é escritora e está escrevendo um livro sobre Emma.

Dessa forma está fechado o ciclo entre as histórias, mas o filme vai explicando aos poucos de forma bastante sutil a conexão entre as histórias. Todas têm de alguma forma o mesmo tema que é estar inconformado com a própria aparência e cada um quer provar o seu próprio valor. Emma acha que vai se sentir melhor se colocar um implante de silicone. Edward usa o seu charme e masculinidade para convencer a dona do estúdio de que sua nova visão pode funcionar no seu filme. Enquanto Michelle tenta provar que uma mulher bonita também pode ser uma escritora.

zoom_foto1

O filme parece uma mistura de “Mais Estranho que a Ficção” com os filmes escritos e/ou dirigidos por Charlie Kaufman. Mas aqui a abordagem é um pouco mais pop e não se aprofunda tanto nos temas que apresenta. O roteiro fica mais na parte superficial, mas mesmo assim é eficiente em apresentar as suas ideias e consegue em sua conclusão alcançar o seu objetivo. É claro que fica a sensação que talvez pudesse ter ido um pouco mais a fundo, dando um pouco mais de zoom (fazendo piada e referência com o próprio título). Só que seguindo por essa linha também corria o risco de passar do ponto e acabar se perdendo nas mensagens. Continua sendo um projeto bastante ousado, ambicioso e inteligente, além de bastante divertido.

A montagem de Lucas Gonzaga é bastante eficiente em dar um bom ritmo alterando entre as três histórias. É interessante como também fica trocando o foco, como se em cada momento uma das três tramas assumisse o papel de história principal. Ainda assim em outras partes o filme parece um pouco perdido, mas é uma impressão que passa rapidamente.

A fotografia de Adrian Teijido brinca bastante com as linguagens de cinema como em uma cena que começa mostrando a imagem de cabeça para baixo e depois vai girando o eixo até que fique na visão certa. E cada uma das histórias usa um estilo de filmar diferente. Obviamente que a animação na história de Edward é a que chama mais atenção. O visual lembra bastante o utilizado no filme “O Homem Duplo” de Richard Linklater com o efeito de rotoscopia onde o desenho é feito por cima das imagens filmadas com os atores. É interessante como as vezes o personagem aparece em preto e branco e vai ganhando cores a medida que suas sensações e emoções vão aparecendo. É um efeito muito legal e muito bem utilizado.

A trilha de Kid Koala faz uma mistura de música pop e rock com elementos de música eletrônica dando um tom de modernidade a história. Além disso, as músicas escolhidas para a trilha também tem um papel importante, com destaque para a canção “Oh! You Pretty Things” de David Bowie.

zoom_foto2

O elenco é bastante internacional e dá ao filme uma diversidade muito boa como se fosse algo mais global. Os diálogos são 90% em inglês, mas tem o restante em português. O principal destaque é Gael Garcia Bernal. Alison Pill também está bem, mas Mariana Ximenes parece um pouco deslocada em alguns momentos. Talvez isso tenha sido proposital para compor sua personagem, mas não funciona o tempo todo.

No final das contas “Zoom” também faz boas críticas em relação a Hollywood, sobre o papel dos produtores em estar interessados em fazer um filme mais como um produto e não como uma obra de arte. Também fala sobre a eterna insatisfação do ser humano em como é julgado de acordo com a sua aparência. E até um pouco crença ao brincar com o karma, já que quando um personagem influência na história do outro isso acaba se alguma forma retornando para ele. Tem outros temas menores como machismo e sexismo, mas esses ficam um pouco mais artificiais. O resultado é uma ótima estreia do diretor Pedro Morelli que consegue misturar várias técnicas ao realizar um filme que consegue ser ao mesmo tempo inteligente e divertido sem deixar de ser ousado e um pouco ambicioso.


Uma frase: Edward (personagem de Gael Garcia Bernal que só aparece em animação) “Quero mostrar que não sou bidimensional”.

Uma cena: O rascunho inicial do desenho sendo feito até dar vida ao personagem Edward interpretado por Gael Garcia Bernal.

Uma curiosidade: A música “Oh! You Pretty Things” de David Bowie faz parte da trilha e o próprio músico aprovou o uso antes de falecer após assistir o filme e ainda cobrou 5 vezes menos do que o pedido inicial feito pela gravadora. (fonte: Rolling Stone).

.


zoom_cartazZoom (Zoom)

Direção: Pedro Morelli
Roteiro: Matt Hansen
Elenco: Gael Garcia Bernal, Alison Pill, Mariana Ximenes, Jason Priestley, Don Mckellar, Tyler Labine, Claudia Ohana e Jennifer Irwin
Gênero: Animação, Comédia, Drama
Ano: 2015
Duração: 97 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *