Crítica | Boi Neon

Crítica | Boi Neon

O filme “Boi Neon” é mais uma prova da rica diversidade do cinema brasileiro que, infelizmente, tem dificuldades em chegar ao conhecimento do grande público por causa da distribuição. O diretor Gabriel Mascaro é mais especializado em documentários como “Doméstica”, mas já tinha feito “Ventos de Agosto” que é um filme de ficção. Aqui ele continua com uma visão mais realista do mundo e tenta captar as imagens de maneira mais natural possível. Como se estivesse fazendo um documentário. Essa não é uma tarefa fácil. Ele opta por construir uma obra mais contemplativa do que se preocupar em necessariamente contar uma história definida. É como se estivéssemos acompanhando o dia a dia dos personagens.

Logo no início o diretor já mostra a principal metáfora sobre o filme. Vemos vários bois passando por um pequeno corredor de forma espremida. A pequena Cacá (Alyne Santana), ao acompanhar a cena, comenta sobre sua fascinação por cavalos. Então Iremar (Juliano Cazarré de “Lobo Atrás da Porta” e “360”) responde que eles só são bonitos e sabem correr, enquanto os bois e vacas são bem mais úteis porque dão alimento como leite e carne, entre outros. Perceberemos ao longo do filme que os personagens têm seus sonhos de uma vida melhor, personificados na figura do cavalo, mas que no final das contas levam a vida como bois. Podem até não ser bonitos, mas tem o seu valor.

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O filme é basicamente sobre isso e é mostrado através de diversas metáforas e simbolismos retratados de maneira inteligente e interessante. A fotografia de Diego García ajuda a mostrar as cenas de forma bonita como se fosse uma poesia em forma de imagens em movimento.

Os personagens são retratados de maneira crua e verossímil, mas sem deixar de ser sutil. Mascaro, que também escreveu o roteiro, constrói os personagens de maneira interessante sem soar caricatos. Além disso, ele brinca um pouco sobre os estereótipos. Temos Galega (Maeve Jinkings) que é a motorista do grupo de vaqueiros (no caso que cuidam do gado), mas nem por isso ela deixa de ser feminina apesar de ser um pouco bruta. Ou o próprio Iremar que é um vaqueiro, mas seu sonho mesmo é ser costureiro e nem por isso ele deixa de ser homem e heterossexual.

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Até mesmo o próprio boi neon do título é um boi pintado de tinta branca para brilhar com luz negra. Esse recurso é utilizado nas vaquejadas feitas a noite para destacar o animal. Ou seja, até ele tem o seu momento de ser belo como o cavalo, mas continua sendo apenas um boi. Uma ótima metáfora sobre a vida. Sobre não deixar de sonhar, mesmo que no final das contas você seja apenas um boi. E valeu boi!


***Classificação***


boi-neon-cartazTítulo Original: Boi Neon (Brasil, 2015)
Com: Juliano Cazarré, Maeve Jinkings, Alyne Santana, Josinaldo Alves, Samya De Lavor, Vinícius de Oliveira, Carlos Pessoa e Abigail Pereira
Direção e Roteiro: Gabriel Mascaro
Duração: 101 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

8 comentários sobre “Crítica | Boi Neon

  1. “Boi Neon” é um filme que tem gerado uma discussão bem interessante. Particularmente, estou aguardando a estreia do longa na minha cidade para eu poder conferir.

  2. Vou criar o prêmio interno Baconzitos de Prata, vai servir para premiar a equipe da POCILGA.

    Melhor finalização de post até agora em 2016 é sua Ramon. Deixa eu ouvir Mastruz com Leite agora!

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