Crítica | Joy – O Nome do Sucesso (Joy)

Crítica | Joy – O Nome do Sucesso (Joy)

Em “Joy – O Nome do Sucesso”, o diretor David O. Russell reúne mais uma vez um elenco formado por um mesmo grupo de atores com algumas ausências e novas adições. Jennifer Lawrence volta a ser a protagonista, já que em “Trapaça” ficou com um papel de coadjuvante, repetindo a parceria com Russell que se formou desde “O Lado Bom da Vida”. A idéia do filme parecia ser interessante ao mostrar uma história inspirada em fatos reais na qual uma personagem feminina forte luta pelo reconhecimento e sucesso de uma invenção. Mas ao começar o filme mostrando uma cena emulando uma novela fictícia já é possível perceber que talvez o diretor não tenha escolhido a melhor maneira de contar essa história.

Joy (Jennifer Lawrence) tem uma vida complicada onde teve que abrir mão de seus sonhos em nome da família. Na infância a situação já era complicada, pois além de ter uma meia irmã, teve que lidar com o divórcio seus pais. Ao crescer abre mão de ir para a faculdade para ajudar nos negócios do pai, acaba casando cedo, tendo filhos e se divorciando. Só que tanto o pai, quanto a mãe, a avó e o ex-marido moram em sua casa. Ela tem que tomar conta, ajudar e resolver o problema de todos. Obviamente que ela não está nada feliz com isso. Ela sempre gostou de inventar coisas, então ao ter a ideia de criar um novo esfregão resolve investir em seu sonho. Só que isso não vai ser nada fácil. A protagonista enfrentará diversas dificuldades para conseguir alcançar o seu sonho, daquele jeito estilo “brasileiro não desiste nunca”. Isso não seria um problema se o roteiro escrito pelo próprio Russell conseguisse dar conta do desenvolvimento dos personagens, principalmente da protagonista.

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A própria história de Joy parece que está sendo contada como se fosse uma novela “moderna”. O filme é narrado por sua avó num tom como se estivesse contando uma fábula. O diretor tenta manter um meio termo entre drama e algumas pequenas doses de comédia. Ele mantém uma fórmula e estilo que conseguiu criar para seus filmes, mas adicionando os elementos citados. Com isso a narrativa acaba soando em muitos momentos artificial, inverossímil e principalmente não impactante o suficiente para se criar uma personagem forte e interessante.

Por exemplo, em um determinado momento vemos Joy tendo um sonho que mostra a morte da sua versão criança como se estivesse sendo exibida em formato de novela. Isso já prejudica o próprio conceito do filme ao mostrar o sonho dentro da novela. Além disso, mostra a falta de sutileza do diretor ao querer com essa cena mostrar a morte dos sonhos de criação e inventividade da protagonista que a acompanhavam desde a infância. Não precisava ser tão obvio.

As atuações, principalmente de Jennifer Lawrence, são bem irregulares. Assim como em “Trapaça”, a escolha dela se mostra incorreta. Principalmente pela fato da atriz ser muito jovem para a personagem. Claro que foi mais por afinidade entre ela e o diretor após terem trabalhado juntos em outros filmes. Mas apesar dessa questão o desempenho de Lawrence não consegue achar o tom certo para a personagem, provavelmente por problemas do próprio roteiro e do tom equivocado do filme. Muitas vezes as frases ditas pela personagem soam como se fossem frases de efeito sem leveza e veracidade.

Além disso, a evolução e amadurecimento da personagem não conseguem ser retratados de maneira satisfatória. Tanto que o diretor acabou usando um recurso visual que é um pouco de SPOILER da história e inclusive está registrado no próprio cartaz do filme: o corte de cabelo curto da personagem. É um momento de transformação nada sutil que prejudica ainda mais o filme. Isso porque logo em seguida mostra Joy encontrando uma solução quase mágica e sem nem um pingo de emoção ou impacto que prejudicam ainda mais o desfecho da história.

A montagem de Alan Baumgarten, Jay Cassidy, Tom Cross e Christopher Tellefsen também atrapalha ao utilizar alguns flashbacks para contar um pedaço da trama de forma não linear. Isso se mostra ainda mais problemático na parte final do filme ao se inverter o sentido mostrando um salto para o futuro (a partir do corte de cabelo) que consolida de vez o fracasso do impacto da história e sua conclusão.

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a trilha sonora de David Campbell e West Dylan Thordson funciona na maior parte do tempo sem exagerar muito para não carregar demais na emoção e nem soar muito melodramático. Só que infelizmente não consegue salvar o artificialidade e fraqueza da narrativa. Os filmes de Russel sempre têm como ponto positivo a escolha das músicas e aqui o resultado é muito bom com ótimas canções pop. Somente o uso da música “Garota de Ipanema”, numa versão em espanhol cantado pelo ex-marido de Joy que é da Venezuela, soa equivocada.

Uma pena que o diretor David O. Russell tenha errado a mão. A idéia do filme e sua protagonista tinham todos os elementos necessários para se criar uma história interessante e que fosse relevante ao mostrar uma personagem feminina de qualidade. Pena que ele ao usar um tom quase de conto de fadas acabou entregando uma obra exageradamente artificial, virando uma versão hiperbólica do sonho americano em versão feminina.


***Classificação***


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Título Original: Joy (EUA, 2015)
Com: Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Virginia Madsen, Édgar Ramírez, Bradley Cooper, Isabella Rossellini, Elisabeth Röhm, Dascha Polanco, Jimmy Jean-Louis, Isabella Crovetti-Cramp, Melissa Rivers, Drena De Niro e Diane Ladd
Direção e Roteiro: David O. Russell
Duração: 124 minutos

 

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

3 comentários sobre “Crítica | Joy – O Nome do Sucesso (Joy)

  1. “Joy: O Nome do Sucesso” é um bom filme, com uma história que vende bem o “sonho americano”. Porém, o que mais me incomodou na obra foi a escalação errada de Jennifer Lawrence, que não convence como mãe solteira de dois filhos. Ela é muito nova para esse papel, na minha opinião.

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