Review | Homeland 5×08: All About Allison

Review | Homeland 5×08: All About Allison

Em “All About Allison” aquilo que descobrimos sobre a personagem de Miranda Otto acaba revelando mais fragilidades do seriado do que contribuindo para uma conclusão à altura do que ameaçava ser a melhor temporada de Homeland até então.

O comentário a seguir apresenta spoilers de “All About Allison”, oitavo episódio da quinta temporada da série de TV Homeland.

Desapontador. Simplesmente desapontador. É essa a melhor descrição para o oitavo episódio da quinta temporada de Homeland. E desapontador por diversos motivos.

Primeiramente temos um episódio completamente insosso e arrastado, onde nada de fato acontece. Em uma rara opção de recorrer à estruturas de flashback, Homeland não se sai bem. Somos apresentados a uma história do passado de Allison e Carrie, no início de suas carreiras, que deveria explicar muito sobre essa temporada. Explica-se pouco, e aquilo que explica, apenas denuncia a pouca imaginação dos roteiristas da série.

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Já havia afirmado aqui na semana passada que muitas das incongruências do roteiro dessa temporada, que se tornaram desconcertantemente evidentes nos últimos três episódios, poderiam ser atenuadas por uma boa justificativa para os atos até então perpetrados. O que se dá, lamentavelmente, é justamente o contrário: as inconsistências apenas se ampliam.

Tudo que você queria saber sobre Allison, mas tinha medo de perguntar…

Muito dessa temporada, afinal, dizia respeito a Allison Carr (Miranda Otto), e aqui vai o segundo desapontamento que tem muito a ver com o primeiro, e talvez seja o mais importante. Durante toda a temporada Allison tem a sua construção insinuada como uma nêmesis mesmo de Carrie. Alguém que fosse tão genial quanto ela, mas que agisse do outro lado.

Allison, a princípio, se mostra bastante competente. Mas diante de tudo que havia sido insinuado até então em Homeland é lamentável perceber que a origem de tudo acerca de Allison, bem como de toda a trama dessa quinta temporada, pode-se afirmar, reside não em uma profunda habilidade sua, mas sim em uma falha de caráter das mais banais. Allison não é uma agente dupla formada pelos russos e astutamente implantada na inteligência estadunidense. Longe disso. Ela é apenas uma funcionária gananciosa e corrupta que se permitiu ser apanhada, numa mostra de profundo amadorismo, e apenas por isso teve que se tornar uma agente dupla Russa.

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Quando considerarmos que isso é tudo que se tem a dizer acerca de Allison, percebemos que de fato até então, tudo que se desenvolveu, fica profundamente comprometido. Esse deveria ser um daqueles episódios onde tudo começa a fazer sentido, mas o que vemos nem de perto atende a essas expectativas. Isso, pois, como já dissemos, a motivação de Allison é absolutamente banal, incapaz de, na prática, levá-la a cometer os crimes que a mesma cometeu ou ajudou a cometer.

Fora da hora, fora de Ordem..

A sensação que fica é que os roteiristas não quiseram se arriscar muito no desenvolvimento de Allison. Essa opção acaba comprometendo muito a personagem ao ponto de interferir na performance de Miranda Otto, até então com uma atuação precisa e quase que impecável. A exemplo disso, em uma cena, de repente, percebemos a câmera mostrando Allison comprando uma bolsa cara em uma site. Ora, até então não tínhamos tido nenhuma revelação sobre particularidades de Allison.

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Também, era justo imaginar que isso se dera justamente para proteger a grande virada que deveria vir nesse episódio. Mas, ocorre que trata-se apenas de uma deixa plantada no próprio episódio para revelar o traço consumista da personalidade da personagem que justificaria a sua ganância. Ganância essa que vai ser o elemento constitutivo de sua relação com o Acrobata (Darwin Shaw) e com os Russos.

Ora, se era apenas isso, porquê então não simplesmente explorar desde mais cedo, ainda que nos bastidores, sem que outros personagens soubessem disso, esse traço? Tudo faria um pouco mais de sentido agora.

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Uma imagem desconcertante

Um roteiro ruim e sem imaginação, uma direção sem inspiração e atuações capengas apresentam à audiência o pior episódio de Homeland dessa temporada; e um que pode, como já disse, fragilizar todo o resultado final dela. Claro, pois as respostas ruins tirariam boa parte da verossimilhança que o tom da série sempre demandou.

Saul, Dar Adal e Carrie, afinal,  teriam suas capacidades e características determinantes enquanto personagens severamente violadas, o que no fim, se perfazeria em uma violação essencial de toda a narrativa. Seria como, de certa forma, estivéssemos assistindo a uma espécie de paródia de Homeland que, por não se assumir como tal, acaba sendo mesmo uma face ruim de si mesma.

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Boa parte do atrativo de Homeland, não nos esqueçamos, está na capacidade dos produtores nos convencerem acerca da verossimilhança das habilidades daqueles personagens de solucionarem uma situação que, ainda que possível, talvez não pudesse ser solucionada por qualquer outra pessoa. É aliás o que diferencia a série de outras como 24 horas, por exemplo.

Assim quando testemunhamos Carrie agindo completamente alheia ao envolvimento de Allison na trama de assassinato contra si mesma, não podemos acreditar que aquela é a mesma Carrie Mathison que conhecemos até então, tampouco a mesma que causa tanto temor aos Russo, ao ponto de desses tecerem uma complexa trama de assassinato apenas para evitar que eles descubram algo que revelaria uma de suas agentes duplas.

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O nome do jogo

Não ajuda muito o episódio mostrar um Saul Berenson e um Peter Quinn ainda mais perdidos do que nunca. Saul que no episódio deveria ter desertado, mas que na verdade apenas desertou de mentirinha, e que quando é enfim convidado a desertar de verdade, afirma que jamais poderia desertar.

Quinn pelo fato de ter se metido em uma side quest que, na prática, sabemos agora, não o levará a lugar algum, fato que nos leva a questionar qual a mínima relevância dessa linha narrativa no enredo geral da temporada. Ambos são meros peões agora, absolutamente distantes sequer de uma sombra de um possível jogador. A sensação é que estamos mesmo assistindo a uma grande farsa, e não no bom sentido.

E a propósito é triste também testemunhar um Dar Adal sem sequer um resquício daquela perspicácia e maquiavelismo que lhes eram tão característicos, sucumbindo, facilmente, a qualquer argumento raso lançado por Allison para justificar seus atos. Homens como ele não chegaram onde chegaram sendo tão crédulos. Muito por isso, a propósito, é que sua desconfiança contra Saul fica justificada.

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Mas a verdade é que nada disso importa. Nem Quinn, nem Saul, nem Dar e nem mesmo Carrie. A participação, ou melhor, a coadjuvância destes no episódio, assim, se dá para que a história de Allison, afinal, possa ser contada. E o problema todo se resume justamente a essa história. Algo com a qual não podemos nos relacionar enquanto público emotivo, e enquanto audiência racional, típica de Homeland, não faz o menor sentido.

Vendo isso assim tão próximo do fim da temporada só nos resta no preocupar. Principalmente considerando uma temporada que começou de forma tão promissora. Fica evidente que, na melhor das hipóteses, os produtores estão protelando, e na pior, perderam totalmente a mão e não sabem mais o que estão fazendo.



homeland posterSérie: Homeland
Temporada:
Episódio: 08
Título: All About Allison
Roteiro: Ron Nyswaner
Direção: Daniel Attias
Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Mandy Patinkin, Miranda Otto, Sebastian Koch, Mark Ivanir, Atheer Adel e F. Murray Abraham.
Exibição original: 22 de Novembro de 2015 – Showtime
Graus de KB: 2 – Darwin Shaw atuou em 007 – Cassino Royale (2006) com Ludger Pistor que esteve em X-Men: Primeira Classe (2011) com Kevin Bacon.

 


Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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