Review | Homeland (S05E01): Separation Anxiety

Review | Homeland (S05E01): Separation Anxiety

O que você precisa saber para acompanhar ou seguir acompanhando Homeland

Em suas três primeiras temporadas a série dramática de espionagem do canal Showtime orbitou em torno do drama de Nicholas Brody (Damian Lewis) soldado estadunidense dado como morto em ação mas mantido por anos como prisioneiro de guerra nas mãos de jihadistas que, uma vez resgatado, ficou sob a mira da analista da CIA Carrie Mathison (Claire Danes) pela suspeita dele ter sofrido lavagem cerebral e ter retornado aos EUA como um sleeper pronto para participar de um ataque terrorista contra sua pátria assim que ativado pelo inimigo. Homeland, afinal, começou como uma adaptação da série israelense Hatufim (Prisioneiros de Guerra, 2009), criada por Gideon Raff, que narra as dificuldades de adaptação de soldados israelenses prisioneiros de grupos terroristas sofrem ao voltar para casa.

Na sua versão estadunidense Brody incorpora esse personagem, e juntamente com ele temas como paranoia, suspense, fidelidade, traição e vigilância são abordados. Esse clima, associado a uma reprodução bastante realista do funcionamento da máquina de espionagem norte-americana, optando por um personagem principal que tem na capacidade mental – essencial à um operativo de inteligência – e não nos músculos, sua principal arma e obstáculo, transformou Homeland em um sucesso tamanho que agradou até mesmo o Presidente Barack Obama. O seriado pode ter começado como uma adaptação, mas logo avançou para além de sua inspiração, tomando proporções maiores na medida que envolviam a CIA, política externa e mexiam com os maiores temores da maior potência bélica do mundo da atualidade.

homeland_season_5O elenco principal retorna também para a quinta temporada.

Assim, quando, na terceira temporada, o arco de história de Carrie e Brody finalmente se encerrou, muitos davam por encerrada também a série. Houve inclusive quem afirmasse que não havia mais sentido em Homeland prosseguir. Mas os produtores Alex Gansa e Howard Gordon (famosos pela série 24hs) e o próprio Gideon Raff sabiam que Homeland já havia transcendido sua proposta original. Eles tinham uma ideia clara de como prosseguir com a série, e assim a quarta temporada apresentou uma nova narrativa consistente que seguia explorando as complexas relações dos EUA com as nações de forte presença islâmica, e o papel da CIA nesse intricado jogo.

No meio disso tudo Carrie Mathison (talvez o melhor papel de Claire Danes em toda a sua carreira), uma genial analista da CIA, obcecada pela segurança de sua nação após o 11 de setembro, porém assombrada por um passado recente traumático e pelas dificuldades de lidar com um transtorno bipolar e com uma depressão pós-parto que a afastou da filha recém-nascida. Carrie é um raro exemplo de personagem feminina bem construída na TV. Forte sem ser masculinizada. Audaciosa. Nada puritana e independente mas nem um pouco vulgar. Determinada quase ao limite da obsessão mas extremamente humana. Capaz de quase qualquer coisa para cumprir sua missão. É curioso o desconforto que Carrie nos causa quando joga com seus informantes, assets e companheiros, seduzindo e em alguns casos indo para cama com eles. Mais curioso ainda é quando nos damos conta de que, fosse James Bond fazendo a mesma, não nos incomodaríamos nem um pouco.

HOMELAND-motherCarrie (finalmente) sendo mãe.

Assim a quarta temporada foi uma grata surpresa. Ainda que não tivesse a densidade dramática das três primeiras – que em determinado momento, equivocadamente a meu entender, passou a jogar todas as suas fichas no relacionamento entre Carrie e Brody – tinha uma trama muito mais bem trabalhada e verossímil, que utilizava mais elementos do mundo da espionagem e nos conduzia em um mergulho ainda mais profundo do jogo de espionagem e política internacional apresentado com inteligência, tensão e sem soluções mágicas típicas de séries de ação como 24hs. Não é esse o público de Homeland, afinal. Quem assiste à Homeland está mais interessado em uma história madura que nos ajuda a compreender melhor um mundo que é completamente alienígena para nós, o qual conhecemos apenas através de lamentáveis estereótipos.

E na quarta temporada, ao se libertar de Brody e Carrie, a série ampliou seu escopo e assumiu o tom preciso pelo qual sua audiência, talvez mesmo sem saber, ansiava. As ações da CIA afetam, enfim, um intrincado jogo de relações internacionais entre diversos países, e cobram sucessivamente um alto custo político, humano e emocional de seus agentes. Basta olhar o rosto de Peter Quinn (interpretado por Rupert Friend, que pode ser visto na nova adaptação da série de games Hitman como o personagem título) que percebemos quão desesperadora é sua posição. O alto custo cobrado não poupa nem mesmo funcionários de alto escalão como Saul Berenson (Mandy Patinkin), também mentor e figura paterna de Carrie, e os desenvolvimentos dessas situações geram profundas repercussões no relacionamentos deles. A quarta temporada de Homeland, enfim, se desvincula tão bem do arco de histórias das três primeiras temporadas, e fecha tão bem o seu novo arco em apenas uma, que nos faz desejar que a história inicial não tivesse ultrapassado a primeira, no máximo a segunda temporada. A opção de novos arcos a cada temporada foi uma grande sacada dos produtores e, como já dito, ao se libertar de sua trama inaugural Homeland mais ganhou do que perdeu.

A ansiedade de um retorno muito esperado

Dito isso foi com uma sensação ainda mais gratificante do que a da temporada prévia que a quinta temporada de Homeland foi recebida por mim. Dois anos se passaram e Carrie Mathisson enfim fez sua escolha pela sua filha e decidiu se afastar da Agência para criá-la passando a viver em Berlim. Ela trabalha no setor privado, para uma fundação que tem relações com países do Oriente Médio e está empenhada em ajudar os refugiados Sírios no Líbano. Sim, Homeland mais uma vez sabe aproveitar sua estrutura para explorar um delicado político momento no mundo.

homeland0501__article-house-780x440Carrie e seu novo chefe.

Assim, subitamente, Carrie Mathison é mais uma vez arrastada – meio que a contragosto, meio que por uma dificuldade em se apartar plenamente de sua antiga vida – para o meio daquele já conhecido intrincado jogo político que envolverá, ao que tudo indica, a CIA, jogos de espionagem com a Alemanha, hackers, o Hezbollah e, é claro, o mais novo e grande antagonista do mundo ocidental: o aterrorizante Estado Islâmico. A propósito a descrição de Quinn – que, enquanto Carrie tentava se afastar do seu passado, se enterrara em uma longa e sombria missão na Síria, lutando contra os piores e mais fundamentalistas dos jihadistas que o mundo moderno teve o horror de conhecer – acerca das motivações e estratégias do ISIS e sua demonstração da evidente inabilidade dos burocratas do governo dos EUA em lidar com um inimigo que não joga pelas regras convencionais, é de gelar o sangue. As suas sugestões de solução também.

Homeland-Episode-5-01-Separation-Anxiety-Promotional-Photos-homeland-38825027-595-446Saul e Quinn, tomando suas providências…

O primeiro episódio da quinta temporada, como seu título parece anunciar, mostra a ansiedade de uma separação. A separação de Carrie da sua nova vida, com sua filha e seu novo namorado, que ela lutou para construir em Berlim. Ansiedade não pelo fato dela temer essa separação, mas justamente, ela sabe em seu íntimo, que sempre esperou ansiosamente por uma oportunidade para voltar ao jogo. E essa oportunidade parece ter enfim se apresentado em torno dela quando seu chefe na fundação Düring avisa que irá viajar para um campo de refugiados no Líbano em três dias. Campo esse que é controlado pelo Hezzbollah e, para garantir a segurança de seu empregador, ela acaba recorrendo a perigosos contatos do passado.

Homeland---Episode-5.01---Separation-Anxiety---Promotional-PhotosCarrie, sendo Carrie…

Paralelamente a isso a estação da CIA em Berlim comandada por Allisson Carr (Miranda Otto, a eterna Éowyn de Senhor dos Anéis) – que assumiu o posto que deveria ter sido de Carrie se ela não o tivesse rejeitado em favor de uma vida mais pacífica – sofre um misterioso ataque de hackers que acabam vazando dados que expõem uma cooperação entre a CIA e o governo alemão para burlar as leis do país de informação e privacidade e autorizar a Agência a espionar ilegalmente cidadãos alemães a pretexto de monitorar ações de terroristas no país que podem ser no final das contas uma ameaça para ambos os países e para toda a Europa. Com o governo alemão se retirando da cooperação por conta do vazamento, Saul terá que recorrer a métodos menos ortodoxos, com a ajuda de Quinn, para continuar a sua missão.

Ainda há muita coisa a se desenvolver ao longo da temporada, isso fica evidente, e como é típico em Homeland, vários elementos são apresentados nesse primeiro episódio acerca dos quais apenas nos daremos conta mais adiante. O primeiro episódio serve como a preparação de um tabuleiro. Mas já deixa um gostinho do novo jogo de espionagem que virá a ser jogado. E o jogo parece estar melhor do que nunca.



hOMELANDPostersSérie: Homeland
Temporada:
Episódio: 01
Título: Separation Anxiety
Roteiro: Chip Johannessen
Direção: Lesli Linka Glatter
Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Mandy Patinkin, Miranda Otto e F. Murray Abraham.
Exibição original: 04 de Outubro de 2015 – Showtime

 

 

 


Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

8 comentários sobre “Review | Homeland (S05E01): Separation Anxiety

  1. A premissa dessa 5º temporada parece muito interessante mesmo. Acompanhei Homeland desde a sua estreia e era para mim uma série que tratava de terrorismo de uma maneira mais verossímil com o que se faz no mundo real do que, por exemplo, 24 horas (que amo de paixão!).

    Só que já no meio da 3º temporada perdi totalmente o interesse na série. Com tantos seriados surgindo em quantidades industriais mundo afora, tá difícil o meu retorno para Homeland.

  2. Gostei bastante da volta de Homeland e olha que com o fim da terceira temporada imaginei que a melhor coisa era ter encerrado a série. Aquela construção tendo Brody e Carrie no centro da trama já estava desgastada desde o meio da segunda temporada. A série não era sobre um ex combatente convertido e sim sobre UMA agente inteligente, com bipolaridade controlada e que se via dentro de uma trama culminando em um enorme ataque terrorista e sendo a unica que vê o perigo onde realmente está: no novo heroi americano.

  3. Podemos dizer que Quinn foi um dos personagens mais bem construídos da história – ao lado de Carrie, Saul, Brody e Dar Adal, Max, Fara … Seria possível esclarecer as seguintes dúvidas:

    – Você gostaria de ver Homeland revelar como a CIA explicou Brody no Irã e sua morte para a imprensa americana?

    – Claramente, a capacidade de Javadi de receber crédito pela captura de Brody ajudou sua causa no Irã, mas o governo dos EUA revelou o papel de Brody no assassinato de Akbari?

    – Seu nome foi limpo para o ataque da CIA? Adoraria saber o que você pensa.

    – Outro fio solto: Paul Franklin e o assassinato do “verdadeiro” homem-bomba da CIA. Ele acabou fazendo aquela cena … por quê ??

    Carrie foi publicamente humilhada, espancada, dopada, baleada e colocou sua vida em risco inúmeras vezes sem hesitar, apenas para fazer os outros verem Brody como ela o via … e ela conseguiu. Abu Nazir, a CIA, Jessica e o próprio público do show, ninguém chegou perto de ver Brody com a clareza que Carrie sempre viu. Carrie sempre leu Brody como ninguém.

    Ah, o diálogo da Carrie com o Javadi foi incrível, será um dos momentos mais memoráveis ​​da série, sem dúvida!
    “E o que você queria, que era para todos verem o que você vê nele. Isso aconteceu. Todo mundo vê através dos seus olhos agora … ”

    – Como Carrie viu Brody? e como os Estados Unidos perceberam isso? É o mundo?

  4. A 3ª temporada não correspondeu à 1ª e 2ª como deveria ser.

    Comparado com a maioria das temporadas foi fraco, já que o enredo e os problemas do enredo que foram esquecidos ou abordados brevemente se destacaram na temporada 3. Não houve “caça” nas cenas de Brody no início da temporada para fazer parecer que ele realmente era o NOS desejado.

    Onde Roya Hammad e seu parceiro terrorista, Mister X. Eles estavam?

    Nunca recebemos uma explicação para os acontecimentos em torno de como o carro de Brody foi movido e seu envolvimento, apenas o que obtivemos foi o “verdadeiro” autor da bomba na CIA em um hotel que devemos acreditar ser um super salto que mudou o roteiro .
    Para tal investimento em contar histórias em torno da família de Brody nas últimas 3 temporadas, para ele simplesmente desaparecer do jeito que desapareceu, foi uma perda de tempo – para piorar a história de Dana, era superficial.
    E todas aquelas cenas sobre a esposa de Mike e Brody continuamente apaixonados um pelo outro, e apenas terminar na terceira temporada foram inúteis – e o filho de Brody desapareceu. E os amigos marinhos de Brody que pensavam que ele fazia parte da conspiração?
    E a subutilização de Quinn ao longo da temporada após ser fundamental no início da estréia da segunda temporada.

    Todos pontos positivos, deveriam ter feito da pátria um espetáculo desta 3ª temporada e abordar todas as tramas possíveis!

    Claire Danes e Damian Lewis nos deram, nas palavras de Damian, “dois pássaros de asas quebradas meio que mancando e circulando um ao redor do outro” em Carrie e Brody de uma forma tão convincente que mesmo que realmente terminasse em lágrimas, foi um GRANDE PASSEIO enquanto durou. E se você sente falta desses dois tanto quanto nós, você pode querer reviver o AMOR com Carrie e Brody: Foi Amor? SIM.

    Homeland teve um final sensato, encerrou todas as histórias de Carrie, enquanto continuava a história contínua da rivalidade da América e da Rússia. A série termina, mas não acaba, só que melhor do que isso foi ver todas essas performances incríveis de F. Murray Abraham, Damian Lewis, Rupert Friend, Mandy Patinkin e Claire Danes…

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