Crítica | O Último Caçador de Bruxas (The Last Witch Hunter)

Crítica | O Último Caçador de Bruxas (The Last Witch Hunter)

Lembra de Charmed? E de Buffy, a Caça Vampiros? Imagine pegar um pouco do universo de Charmed, dar um tom mais dark, e colocar Buffy como a polícia das bruxas. Só que ao invés de Sarah Michelle Gellar você coloca Vin Diesel, usando preto o tempo inteiro, para esconder a barriguinha recém-adquirida. Pois é. Isso resume bem O Último Caçador de Bruxas.

Há uma informação curiosa que o roteiro desse filme circulou na famosa Blacklist dos roteiros de Hollywood, em 2010. A Blacklist, para quem não sabe, é uma lista que o mercado faz com os melhores roteiros que rodam pelos estúdios. Timur Bekmambetov – o estiloso diretor cazaque responsável por O Procurado (2008) e Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (2012) – chegou a ser cotado para dirigir a primeira versão do roteiro. Mas a produção não decolou, o roteiro passou por novos “tratamentos”, o genérico Breck Eisner foi trazido para o projeto e, bem, o resultado é esse aí. Essa história serve para evidenciar ou que a Blacklist não passa mesmo de uma farsa mercadológica que a indústria usa para enganar a própria indústria, ou como um bom roteiro pode se degenerar ao longo de uma produção e como um diretor menos talentoso produz um resultado pífio mesmo a partir de uma boa fonte.

Vin Diesel é um nerd de carteirinha e um eterno jogador de Dungeons&Dragons. Sério pessoal, ele, como eu, joga com seus amigos, até hoje. E só por isso ele já teria meu profundo apreço e respeito. É mais legal ainda saber que Kaulder, o personagem principal do filme, é na verdade uma adaptação de um personagem seu de DnD. Um personagem para o qual ele inventou a classe! Um ranger que tem algumas magias adaptadas e que tem como favored enemy bruxas. O danado é overpower, já deu pra perceber né. São tantas identificações. Até com a forma física dele atual me identifico. Go Vin! Você é o cara!

Ainda assim, um resquício de integridade profissional não me permite favorecer um colega rpgista dessa maneira. O Último Caçador de Bruxas, é fato, não é o tipo de filme do qual se espera muito. Um blockbuster, com uma temática meio mística, meio aventuresca, para agradar a nova geração que se amarra em Harry Potter, Crepúsculo, Supernatural e afins.

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Nada errado nisso. Fora Crepúsculo, são boas fontes. Ok, fontes razoáveis. Supernatural já deu o que tinha que dar. Mas, enfim, o que o filme me lembrou mesmo foi um episódio de Charmed ou Buffy. Ambas era séries da década de 90 de muito sucesso. Charmed contava a história de três irmãs bruxas com imensos poderes que lutavam contra as forças das trevas. Buffy – a série que revelou Joss Whedon, seu criador, roteirista e diretor – contava a história de uma colegial líder de torcida que descobria do dia para a noite que pertencia a uma longa tradição de caçadoras de vampiros, com poderes especiais para lutar contra as forças das trevas.

Ambas as séries – Buffy com considerável mais competência graças ao talento de Whedon – conseguiram estabelecer um universo místico bem interessante, com todo o tipo de criaturas que interagiam entre si e uma espécie de sistema que garantia uma convivência entre eles. O Último Caçador de Bruxas parece tentar fazer a mesma coisa. Kaulder – ou Kurgan, se você preferir – é um guerreiro viking que ao enfrentar e derrotar a nefasta e poderosa Rainha das Bruxas séculos atrás adquiriu imortalidade. Ele além de não envelhecer é praticamente indestrutível, se regenerando imediatamente no melhor estilo Wolverine. O tempo também lhe conferiu habilidades e conhecimento e algumas traquitanas místicas que ele usa volta e meia, no melhor estilo do BPRD.

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Uma organização obscura relacionada à Igreja Católica o auxilia através de um padre que utiliza o título de Dolan. De tempos em tempos um novo Dolan assume. Michael Caine faz o 36º Dolan que é sucedido por Elijah Wood e em seguida “morre” misteriosamente por meio de – pasmem! – magia. Kaulder decide então investigar o “mistério” por trás da morte de seu velho amigo – que ele carinhosamente chama de “garoto” – e isso o leva a descobrir detalhes obscuros de sua transformação no Caçador de Bruxas e sua relação com a poderosa Rainha das Bruxas, que, adivinhem, não morreu de verdade, e ameaça renascer para lançar a humanidade nas trevas de uma vez por todas.

No caminho Kaulder encontra uma bruxa boa que vai servir como sua nova sidekick (Rose Leslie, a Ygritte de Game of Thrones) – já que no filme Elijah Wood se mostra tão útil quanto Frodo em O Senhor dos Anéis – que insistentemente tenta fazer ele recuperar a memória do dia de sua própria “morte”. Sério, acho que mais da metade do filme é gasta com Vin Diesel tentando uma terapia de regressão que é a todo o momento interrompida.

TLWH008Sabe de naaaadaaaa!

Falar qualquer coisa além disso seria dar spoiler. Se bem que num filme como esse o termo spoiler não se aplica. Acho que o mais apropriado seria preserver.

Mas como nem tudo são trevas, bom, o filme tem umas sacadas legais para que estiver de ter uma inspiração para um cenário de RPG estilo World of Darkness com heróis de aventura que não interpretam, mas resolvem as coisas no muque. Quem precisa de livros e encantamentos quando se pode retirar maldição no muque! Ah sim, sem querer ser injusto, o ator coadjuvante que interpreta o capanga da Rainha das Bruxas está ótimo. Belial (interpretado pelo desconhecido para mim Ólafur Darri Ólafsson) é de longe o melhor personagem do filme e promove um major kick ass em Vin Diesel. Os demais atores… nahhh… se Rose Leslie em determinado momento gritasse que Kaulder não sabia de nada, eu com certeza vibraira no cinema, e seria a melhor coisa que ela teria feito no filme (obrigado Ramon Prates pela referência).

No fim das contas o Último Caçador de Bruxas se encerra dando a entender que tem a pretensão – vejam só – de virar uma franquia… Isso me fez ter a certeza que eu havia entrado no cinema não para assistir a um longa-metragem. O Último Caçador de Bruxas se assemelha mais a um piloto de seriado de TV, daquelas de segunda ou terceira categoria que nem mesmo a TV estadunidense – que vive na competitiva era da HBO e da Netflix – tem mais coragem de produzir.

Foi mal aí Vin, você é o cara; mas o Último Caçador de Bruxas só vale mesmo para fechar grade de horário da sessão da tarde em semana de dia das bruxas.



Título Original: The Last Witch Hunter
Título Nacional: O Último Caçador de Bruxas
Gênero: Ação/Aventura/Fantasia
Ano: 2015
Duração: 106 min
Diretor: Breck Eisner
Roteiro: Cory Goodman, Matt Sazama e Burk Sharpless.
Elenco: Vin Diesel, Rose Leslie, Elijah Wood, Ólafur Darri Ólafsson e Michael Caine.
Graus de KB: 2 (Vin Diesel esteve em O Resgate do Soldado Ryan (1998) com Corey Johnson que trabalhou em X-Men: Primeira Classe (2011) com Kevin Bacon).

 

 



Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

3 comentários sobre “Crítica | O Último Caçador de Bruxas (The Last Witch Hunter)

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